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Quando eu era criança, a política tinha um apelo mínimo. Ouvir os adultos de minha vida falando sobre seus candidatos preferidos não me atraia muito. Sentia que eleições e votação eram importantes, mas não algo com que realmente me preocupasse.
Agora, é impossível para os nossos filhos não prestarem atenção. Suas vidas foram profundamente impactadas pelas decisões tomadas por alguém distante. Seus pais são emocionais, os políticos são emocionais e, às vezes, os adultos expressam essas emoções de uma maneira que as crianças não estão familiarizadas.
As lições cívicas da temporada de eleições dadas a mim quando criança não me parecem mais adequadas. As crianças de hoje têm grandes dúvidas e grandes sentimentos sobre eleições e políticas de saúde publica. Cabe aos pais ajudá-los no processo.
As crianças estão vivenciando a política com mais intensidade
Houve poucos momentos na história recente em que as vidas das crianças foram tão diretamente afetadas pela política – pense na pandemia de gripe de 1918, na Depressão, na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial, nos ataques terroristas de 11 de setembro.
Eu penso muito sobre como as crianças estão na linha de frente de todos os principais desafios políticos de hoje. Elas são confrontados diretamente com as mudanças climáticas e estão realmente na linha de frente da Covid, com o fechamento de escolas. A política não é abstrata para eles.
Esta realidade pode ajudar os alunos a se tornarem cidadãos mais ativos, pois eles veem em primeira mão como as decisões tomadas do alto podem afetá-los pessoalmente. Mas também existe o risco de trauma. Isso também pode acabar sendo desestabilizador e opressor (para as crianças). E o nível de hostilidade pode ser assustador.
Depois, há o discurso político, que mudou substancialmente na era de presidentes como Lula, Dilma, Bolsonaro e Donald Trump. Casais realizam “debates presidenciais” presumindo que os filhos prestarão mais atenção nos seus brinquedos favoritos. Pelo contrário, muitas vezes eles ficam paralisados. Além do mais, eles justificam alguns dos xingamentos usando as mesmas ferramentas que os adultos lhes ensinaram a digerir brigas. A discussão política perturba as crianças. Os adultos, distraidamente, permitem que elas testemunhem um capítulo complicado e desconfortável da política sem lhes dar as ferramentas práticas ou emocionais para entendê-lo.
Dê a eles uma sensação de controle
É importante não permitir que a raiva e o barulho continuem sendo raiva e barulho. É preciso ajudá-los a ver como fazem parte de um país que desejam melhorar. A chave é ensiná-los que, embora não possam votar, eles têm opinião. Você poderia começar com uma conversa sobre como é ir para a escola durante a pandemia e como eles gostariam que as autoridades eleitas soubessem sobre isso. Eles podem até escrever uma carta para políticos locais expressando seus medos e frustrações.
Ajude-os a entender as regras
As crianças também se beneficiam ao compreender que, assim como em casa, existem regras no Brasil e mesmo nossos líderes nem sempre são livres para fazer o que quiserem. As crianças podem estar interessadas em entender como funciona o voto e como o governo está estruturado.
Também ajuda se crianças a compreenderem o conceito de liberdade, igualdade e bem comum. À medida que envelhecem, as crianças podem começar a entender que nossas regras nem sempre se alinham com esses valores e o que podemos fazer a respeito.
Ensine-os a entender ver os dois lados
É uma boa prática fazer com que os filhos explorem como as pessoas do outro lado de uma questão podem pensar, mesmo que todos na família discordem de sua posição.
É preciso ensiná-los a ouvir os outros. O engajamento cívico é uma experiência aprendida. Não significa que, ao completarmos 18 anos sabemos ser cidadãos.
Você pode perguntar a seus filhos por que eles usam máscaras e por que algumas pessoas podem não querer. Em seguida, ajude-os a considerar o que está em jogo: Você acha que é importante que outras pessoas usem máscaras? Por quê? Qual é a diferença entre o que você faz em casa ou quando está sozinho e o que você faz fora de casa ou quando está em uma comunidade? Esta é uma boa maneira de apresentá-los às ideias de liberdade individual e coletiva.
Use histórias da história
Use narrativas tanto quanto possível para ajudar as crianças a entender a política. As histórias os ajudam a reter todas as informações mil vezes melhor. Use histórias que aconteceram no Brasil como a ditadura militar, as Diretas Já, as eleições para presidente e tantas outras. Ensine-os sobre como as mudanças aconteceram no passado e eles compreenderão melhor como as mudanças podem acontecer no futuro.
Lembre-se de que cada família e criança são diferentes
Considerando as diferenças quase infinitas nas visões políticas, dinâmica familiar e psicologia infantil, não existe uma maneira única de ajudar seus filhos a dar sentido à vida política.
Fernanda, uma mãe politicamente conservadora, com filhos de 4 e 9 anos de idade, moradora de Belo Horizonte, me disse que evita falar mal de oponentes políticos. “Eu não digo aos meus filhos que essa pessoa é uma pessoa boa e essa pessoa é uma pessoa má”, disse ela. “Vivemos em um ambiente em que muita gente vota na direção oposta. Não quero que pensem que quem discorda deles é uma pessoa má.”
Se seus filhos fazem perguntas sobre o comportamento de um político, ela tenta fazer isso sobre sistemas de valores conflitantes, e não sobre o indivíduo. Seus filhos sabem qual candidato ela e o marido preferem, mas tentam manter a ansiedade em torno do oponente longe dos filhos. Todo envolvimento dela é motivado por suas perguntas como: O que está acontecendo com Bolsonaro? O que está acontecendo com todos os moradores de rua?
Seus filhos participaram de passeatas, escreveram cartas para votar e entregaram sanduíches aos sem-teto. Por tudo isso, Fernanda disse que eles se mantêm focados em como podem tornar as coisas melhores, em vez de detalhar o porque as coisas estão erradas.
Em casa é importante perguntar aos nossos filhos quais são as perguntas que eles têm sobre política, com o que estão preocupados e se gostariam que nós os ajudássemos a ter ideias sobre como agir. Além de ajudar a aliviar suas ansiedades, este exercício também estabelece um precedente que pode permanecer com eles por toda a vida: sua voz é importante, suas preocupações são importantes e quase sempre há algo a ser feito a respeito.
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